Selada por tempo indeterminado...
Foi à cerca de 6 anos que abri esta caixinha virtual, enquanto Pandora, de forma a registar as minhas aventuras e desventuras e poder dar forma a um registo que sempre adorei: a escrita. Comecei ainda novinha com os diários perfumados com chaves e tudo, depois passei para as folhas dos cadernos da escola e quando a escrita e poesia era dirigida a alguém, passaram a preencher folhas lisas soltas, para poderem chegar ao destinatário. Sempre tive a ideia que quando se escreve para alguém, essa mensagem tem como objectivo último, ser lida e apreciada (ou não) por alguém. É como uma música que é escrita na pauta mas que só vive se a transformarmos em sons, para que alguém a possa ouvir.
Penso que com o passar do tempo, este meu "diário virtual" passou de um registo entusiasta dirigido principalmente ao então meu noivo e amigos, pautado pelos preparativos do casamento, o nascimento do meu filho e a criação da minha empresa, para um registo melancólico, pautado com a ansiedade da falta de saúde, minha e de outros que me são próximos e sobretudo da falta de entusiasmo e espectativas que surgem nesta fase da minha vida. A situação e a conjuntura actual não é de todo favorável a novos planos e pior que isso, está a sufocar a nossa vida quotidiana. Quando olhava de longe para o número deste ano, imaginava outra realidade muito mais consistente, com mais alegrias e sobretudo, menos angústia e sofrimento. São situações que isoladamente são ultrapassáveis, mas o facto de surgirem em catadupa fazem com que eu nem tenha tempo de me restabelecer. Logo agora que tenho que estar mais concentrada, mais alerta, para lutar e vencer! Infelizmente (ou felizmente) aprendi desde cedo, que o que as pessoas menos querem é estar/lidar/falar com uma pessoa depressiva e com discurso derrotista e talvez por isso eu me recuse a ser uma! Tento estar no meu melhor quando estou com os meus familiares e amigos, pois o tempo que temos disponível por vezes é tão pouco, que temos que o aproveitar da melhor maneira, de uma forma alegre e descontraída. Muitas das vezes dois dedos de conversa são o suficiente para levantar o nosso astral e o da outra pessoa (pelo menos eu penso assim).
E precisamente para colmatar essa falha, na vida quotidiana-de-uns-para-cada-lado-e-de-lidarmos-sempre-com-as mesmas-pessoas, que criei o blog. Não chateava directamente as pessoas, não lhe tirava "direito de antena" (que isto de ser só ouvinte é também muito chato) e criei uma forma de as pessoas continuarem a estabelecer contacto comigo, serem espectadoras e intervenientes (se assim o entendessem) mas sobretudo terem a oportunidade de serem minhas confidentes. Achei que era perfeito, mas enganei-me. Porque o que acaba por me acontecer é que com a falta de tempo, tenho menos oportunidade de me dedicar aos posts e que acabou por enfatizar uma característica muito minha; é que a escrita é um escape para minha angústia. Como ultimamente elas tem sido mais que muitas, parece que só me dá ganas de escrever coisas deprimentes e melancólicas (e vocês numa leram um poema meu! Sou aquilo que se pode considerar uma lolita gótica da escrita.Isto existe?). E por isso, isto não está a resultar nem para mim, nem para vocês que me estão a ler.
(isto está a começar a parecer uma carta de quem quer acabar um relacionamento amoroso!...)
Acabo por ter que falar por meias palavras, porque poucas pessoas tem o privilégio de saber o que se passa na minha cabeça, alma e coração. Sabe-o apenas pessoalmente, quando há abertura para tal. Não é por mania ou egoísmo, mas porque a vida já me ensinou que por vezes não se pode confiar em ninguém, nem na nossa própria sombra! E porque o tempo e o silêncio, apesar de tudo, continuam a ser os melhores conselheiros. Se num dia as coisas correm mal com alguém, não devíamos ir a correr dizer mal dessa pessoa, mas esperar que a poeira assente e depois reflectir, colocar-nos do lugar da outra e por vezes dar-lhe uma segunda oportunidade (ou terceira, ou quarta...) Como já uma vez li Não confunda minha personalidade com minhas atitudes. Minha personalidade é quem eu sou. Minhas atitudes dependem de quem você é.
Adiante, isto tudo para dizer que tenho a perfeita consciência que já não consigo cativar mais ninguém para ler este meu blog. Não tenho coisas giras para mostrar/vender, nem tenho coisas muito animadas para dizer. Lamento, mas é tudo o que aqui se pode oferecer neste momento. Vou ter que canalizar o meu "Lado Lunar" para outra trajectória, porque não é isto que eu idealizei para o caixas e caixinhas. Agradeço às pessoas que tiveram a paciência para lerem o que por aqui foi sendo escrito, agradeço a alegria e a preocupação que me foram transmitindo consoante as situações, vai-me fazer falta o pouco feed-back que ainda ia havendo, mas acredito que selar esta caixinha é o melhor que há a fazer neste momento.
Sim, porque a Pandora continua a acreditar que a Esperança é a última a morrer e não quer que ela escape da caixa por nada deste mundo! Quem sabe um dia a Pandora queira abrir de novo a sua caixa e deixe vir à luz do dia os seus sonhos mais bem guardados? Quem sabe?
2 Comments:
Nesta coisa da vida, eu acredito que há-de sempre haver altos e baixos, o lá em cima e o cá em baixo, a abundância e a escassez.
Eu não queria referir o tema da crise, mas quando praticamente toda a gente está a sofrer com uma onda negativa, por muito esforço que façamos para a frente acabamos sempre por ser arrastados para trás.
Puxar para cima nem sempre é fácil, principalmente sem apoio exterior e quando temos que puxar por nós e pelos outros.
Vale-nos a cumplicidade de quem nos ama e o ser que vimos nascer, mais do que tudo o resto.
O que temos que fazer é tentar estar sempre na parte de cima, ou então viramos o chão ao contrário.
Vamos acreditar que, naquilo que não depende de nós nada pudemos fazer, em tudo o resto cá estaremos para lutar.
Podes fechar a caixinha, mas deixa a estrela brilhar...
By Papá Astronauta, at 21:36
Mario Quintana
ESPERANÇA
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
By Ines Mota, at 17:20
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