Ritual
Olho o relógio. Quase sempre quase meia-noite. Inicio o meu ritual.
Pego no jarro e encho até ao limite. Pouso na base. Clico no botão.
Abro a porta do armário e tiro a chavena-mor. Fecho o armário.
Vou à despensa. Pego numa caixinha e tiro uma pirâmide que encerra aromas petrificados, desejosos de voltar a ser.
A pirâmide repousa agora sobre uma base circular.
"Click".
A água fervilhante jorra enrolada numa nuvem. A cor tingida anuncia a metarmofose da água.
Volto ao armário da despensa novamente e trago o açucareiro.
Abro a gaveta dos talheres. Tiro uma colher alta. Uma colher cheia. Hum... É pouco, gosto do chá doce. Só mais uma pitadinha...
Deixo repousar.
Encho a máquina de lavar roupa com a mesma gama de cores. Rodo e carrego em botões e coloco pózinhos para a magia acontecer.
De volta à chavena. Pego-lhe e suspendo a pirâmide por um fio. Balança até ficar imóvel e cair a última gota. Solto os dedos e a pirâmide cai em queda livre no abismo escuro.
Pouso a chavena no balcão, no mesmo sítio de sempre.
Olho o relógio enquanto faço girar a colher no interior da chavena.
Meia-noite. Carrego nos últimos botões para mais uma noite de lavagens.
E depois, tento levar unicamente com duas mãos e dois braços, uma chavena gigante de chá, uma botija de água quente, um guardanapo com um bocadinho de chocolate e ainda um telemóvel, enquanto tento apagar as luzes à minha passagem até ao quarto, com um rufar de tambores na minha imaginação, tal qual um número de circo!...
Encontrei este apontamento escrito no tempo em que a minha rotina diária ainda não incluía fraldas nem choros de bebé. Ai agora como os rituais passaram a ser outros!...
Pego no jarro e encho até ao limite. Pouso na base. Clico no botão.
Abro a porta do armário e tiro a chavena-mor. Fecho o armário.
Vou à despensa. Pego numa caixinha e tiro uma pirâmide que encerra aromas petrificados, desejosos de voltar a ser.
A pirâmide repousa agora sobre uma base circular.
"Click".
A água fervilhante jorra enrolada numa nuvem. A cor tingida anuncia a metarmofose da água.
Volto ao armário da despensa novamente e trago o açucareiro.
Abro a gaveta dos talheres. Tiro uma colher alta. Uma colher cheia. Hum... É pouco, gosto do chá doce. Só mais uma pitadinha...
Deixo repousar.
Encho a máquina de lavar roupa com a mesma gama de cores. Rodo e carrego em botões e coloco pózinhos para a magia acontecer.
De volta à chavena. Pego-lhe e suspendo a pirâmide por um fio. Balança até ficar imóvel e cair a última gota. Solto os dedos e a pirâmide cai em queda livre no abismo escuro.
Pouso a chavena no balcão, no mesmo sítio de sempre.
Olho o relógio enquanto faço girar a colher no interior da chavena.
Meia-noite. Carrego nos últimos botões para mais uma noite de lavagens.
E depois, tento levar unicamente com duas mãos e dois braços, uma chavena gigante de chá, uma botija de água quente, um guardanapo com um bocadinho de chocolate e ainda um telemóvel, enquanto tento apagar as luzes à minha passagem até ao quarto, com um rufar de tambores na minha imaginação, tal qual um número de circo!...
Encontrei este apontamento escrito no tempo em que a minha rotina diária ainda não incluía fraldas nem choros de bebé. Ai agora como os rituais passaram a ser outros!...